SABER ELE NÃO
SABIA, MAS ERA SÁBIO
João Clementino
da Silva, o Doca, vivia distraído em seu mundo - mundo muito seu - e nem se
dava conta de que, além do eco da sua voz, atrás do Morro Vermelho, existia uma
outra história. Até que um dia começou a pensar sobre outras realidades e quis
saber mais a respeito delas.
Toda tarde
gostava de passar pelo terreiro da fazenda do seu Genésio e roubar um dedo de
prosa. Cutucava com uma varinha a areia
fofa que ficava por cima do chão batido, onde costumava secar o café da
colheita e, enquanto conversava de cócoras, fazia contas e desenhos sem nexos,
ora seis, ora nove mais dois e proseava com o compadre:
- É, acho que
vai chovê inté no finar da semana, acha não Nésio?
-Tarveiz sim
cumpadi, as cigarras danaro a cantá estes dias. A bicharada tamém anda meio
esvoaçada. Pricisano tá! Meu fejão pode inté perdê se num chuvê logo.
-Tamém prantei
um punhado de mio. Tô doido pra mode caí um bucadinho de chuva. Vai sê muito
bão sô...