DE CÃES E ÉBRIOS
Ia negociando
noções de equilíbrio com a parede, ao caminhar. Completamente bêbado. A roupa
suja, o cheiro a vômito, a ardência na garganta. A personalidade em trapos.
Limpa, apenas a memória, mas, ainda assim, lhe rondava uma sensação
desconfortável de que algo voltaria a atormentar, de que a trégua se iria junto
com o porre.
A noite era
úmida, mas, não chovia. Ao passar, a caminho de casa, pelos bares mais
badalados, do centro da cidade, começara a ouvir os risos e gritos debochados
proferidos pelos jovens boêmios. Riam, apontavam, detalhavam seus destroços
como se ele os desconhecesse. De repente alguém gritou, às gargalhadas:
– Não se sabe
quem é o cachorro ou quem é o bêbado!
Foi somente aí
que ele percebeu a presença do cãozinho que o seguia. Era baixinho, de
cinzentos pêlos crespos, rabo levantado e orelhas caídas. Fugia de qualquer
padrão racial.
– Deixa de andar
com este animal… – bradou um gaiato, prosseguindo após uma breve pausa: –
cachorro!
Todos riam. E
todo este riso,