Assoprei
as velinhas com um fôlego de menina. Se você está aí curioso para saber quantas
delas havia em cima do bolo, eu digo: quarenta e sete.
Puxei
o ar, segurei e esvaziei os pulmões de uma só vez. Ato capaz de fazer corar até
o lobo da história “Os Três Porquinhos”.
Em
um passado não muito distante, fazer aniversário, para mim, era um martírio.
Sentia o peso de qualquer idade inaugurada, em número duplicado. Eu não tinha
20, tinha 40. Eu não tinha 35, tinha 70.
Hoje,
celebro a data de maneira tranquila, serena e com uma felicidade que me
revigora. A responsável por essa mudança de comportamento? Vejam só que
irônico: a idade.
Acumular
idade é um presente.
A
bolsa de marca famosa se vai, o sapato torna-se démodé, a blusa fica
ultrapassada, a calça não serve mais, as bijuterias resistiram ao modismo de um
único verão. Mas as idades vão ficando, se agrupando, se juntando, se apertando
dentro da gente. Eu ainda tenho 5, 10, 15, 20, 30, 40 e 47 anos.
Tenho
a somatória das escolhas que fiz, tenho família formada, tenho amigos de longa
data e outros que estão chegando, tenho as músicas que me marcaram, tenho os
livros que recentemente descobri, tenho os filmes a que assisti.
Tenho
momentos, memórias, lembranças, viagens, passeios.
Tenho
sonhos, metas, arrependimentos, desilusões, fantasias, desejos, vontades,
delírios.
Ao
soprar velinhas, não zero o passado. Carrego tudo comigo. Não sou doida de
desprezar o maior responsável por me tornar a pessoa que sou hoje.
Sigo
escrevendo a minha história e sei que a linha estendida à frente é mais curta
do que toda a que eu já percorri.
Ciente
disso, não me prendo mais a bobagens, ao supérfluo, ao desnecessário. Filtrar
também é maturidade.
Ando
leve. Carrego comigo somente o que me cabe.