quarta-feira, 27 de abril de 2016

O QUE ME CABE - por Katia Muniz (Paranaguá, PR)

Assoprei as velinhas com um fôlego de menina. Se você está aí curioso para saber quantas delas havia em cima do bolo, eu digo: quarenta e sete.
Puxei o ar, segurei e esvaziei os pulmões de uma só vez. Ato capaz de fazer corar até o lobo da história “Os Três Porquinhos”.
Em um passado não muito distante, fazer aniversário, para mim, era um martírio. Sentia o peso de qualquer idade inaugurada, em número duplicado. Eu não tinha 20, tinha 40. Eu não tinha 35, tinha 70.
Hoje, celebro a data de maneira tranquila, serena e com uma felicidade que me revigora. A responsável por essa mudança de comportamento? Vejam só que irônico: a idade.
Acumular idade é um presente.
A bolsa de marca famosa se vai, o sapato torna-se démodé, a blusa fica ultrapassada, a calça não serve mais, as bijuterias resistiram ao modismo de um único verão. Mas as idades vão ficando, se agrupando, se juntando, se apertando dentro da gente. Eu ainda tenho 5, 10, 15, 20, 30, 40 e 47 anos.
Tenho a somatória das escolhas que fiz, tenho família formada, tenho amigos de longa data e outros que estão chegando, tenho as músicas que me marcaram, tenho os livros que recentemente descobri, tenho os filmes a que assisti.
Tenho momentos, memórias, lembranças, viagens, passeios.
Tenho sonhos, metas, arrependimentos, desilusões, fantasias, desejos, vontades, delírios.
Ao soprar velinhas, não zero o passado. Carrego tudo comigo. Não sou doida de desprezar o maior responsável por me tornar a pessoa que sou hoje.
Sigo escrevendo a minha história e sei que a linha estendida à frente é mais curta do que toda a que eu já percorri.
Ciente disso, não me prendo mais a bobagens, ao supérfluo, ao desnecessário. Filtrar também é maturidade.
Ando leve. Carrego comigo somente o que me cabe.